05 de Julho de 2018
MOSCOU – Enquanto os comerciantes estacionavam vans e descarregavam caixas, o chef Andrey Gorin vestia um puído avental por cima da camiseta preta. Hora de comandar a churrasqueira no Mercado de Vernisazh, a “Feira Hippie” de Moscou que fervilha durante a Copa do Mundo, com um comércio popular dominado pela pechincha.
Os espetos de carne acompanhados de batatas alimentam a fome de vendas nas 39 barracas repletas de matrioskas, camisetas, artigos esportivos, relíquias da Segunda Guerra Mundial e casacos de pele para o rigoroso inverno abaixo de 0°C. Enquanto prepara os assados, o cozinheiro atende os clientes em espanhol, inglês e italiano.
“Com o tempo, aprendemos as palavras-chave de cada língua. A senha é sempre perguntar ‘de que país você é?’ A tecnologia ajuda, mas a prática é diária. Ainda preciso aperfeiçoar o português”, diz Gorin, que trabalha com uma bandeira do México às costas, uma flanela do Panamá no alto do exaustor e um adesivo da Nasa na geladeira, a poucos metros de um pôster do famoso cosmonauta russo Yuri Gagarin.
A comida fica para o fim do passeio recheado de contrastes. Até lá, o visitante precisará de outras palavras mágicas para encurtar caminhos diante de fileiras de produtos artesanais ou Made in China(principalmente os relacionados ao Mundial).
“Skol’ko stoit?” é a pergunta mais simples e necessária (“quanto custa?”), num russo bem rudimentar para os estrangeiros. O preço inicial do vendedor será alto. Começa, então, a dança por um denominador comum entre o custo original e um possível desconto generoso.
“Esta é a segunda casa dos turistas que visitam Moscou. Depois da Praça Vermelha, eles precisam passar aqui para levar lembranças da cidade. Além do mais, temos o nosso próprio Kremlin”, afirma a vendedora de matrioskas Yelena Tarasenko.
Também conhecida como Mercado de Izmailovo, devido à localização no bairro homônimo da capital russa, a feira é facilmente acessada por duas estações de metrô. A área de 256 km² precisa de algumas horas para ser percorrida.
Antes aberto apenas aos sábados e domingos, o espaço agora está disponível todos os dias para sugar o máximo dos 700 milhões de visitantes no país de Lênin e outros ícones socialistas, mas cujas prateleiras aparecem ocupadas também por Donald Trump, Lebron James, Michael Jackson e grandes marcas capitalistas como a da Coca-Cola.
Nem sempre, porém, é preciso tirar a carteira do bolso para levar algum suvenir. Foi assim com os recém-casados que deixavam a igreja atrás de um prédio com estilo chinês e passaram por argentinos torcedores do River Plate. Felicidade para uns, tristeza para outros, já eliminados da Copa do Mundo.