21 de Dezembro de 2016
Sempre com um sorriso no rosto e muitas histórias para contar, João Batista da Silva, de 62 anos, é uma figura conhecida na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac). Todos os dias, ele vai até lá para ler os exemplares de ao menos quatro jornais que circulam no estado. O seu João, como é conhecido, conversou com o G1 e contou que as ruas do Centro da capital acreana, Rio Branco, se tornaram seu “lar” há mais de 20 anos.
“Aprendi a ler ainda pequeno, no tempo que se chamava ginásio. Gosto de ler jornal todo dia, porque preciso ficar informado sobre política, tanto do Brasil como aqui do Acre. Também gosto das páginas policiais. Inclusive, queria falar para o povo acordar, porque o Brasil está quebrado por conta desses políticos”, explica o morador.
Mesmo sem lembrar exatamente a data em que sua vida mudou e ele passou a viver na rua, Silva relatou que morava sozinho em uma casa no bairro Calafate e precisou fazer uma cirurgia.
Após ficar dias internado, ele retornou para casa e o local havia sido invadido. Com medo, ele diz que resolveu não brigar pelo direito e procurou abrigo nas calçadas e bancos da capital.
O andarilho conta que carrega tudo que tem dentro de um saco e isso para ele é suficiente. “Minha mala é um saco e o cadeado é um nó. Ando com uns panos que me cubro, um travesseiro, capa de frio e roupas que eu ganho das pessoas. Só que à noite, os outros moradores de rua me pedem dizendo que estão com frio e eu dou para eles”, afirma.
Meio confuso, ele contou que já trabalhou em alguns lugares e teve uma vida boa, mas logo depois, muda de assunto. Sobre o sonho de ter uma casa para morar, Silva disse que nunca desistiu. “Tenho vontade de ter um lugar para viver, mas isso naturalmente chega. Porém, não tenho mais ansiedade com relação a isso como eu tinha antes quando era mais novo”, esclarece.
A vida nas ruas
Silva fala como é o dia a dia nas ruas e disse que gosta de dormir e acordar bem cedo. Depois que acorda, procura um lugar para poder tomar banho e vai em busca do café da manhã, que é doado pelo dono de um lanche que fica no Terminal Urbano da capital. Em seguida, vai para a Aleac, onde conversa com várias pessoas, lê os jornais e ainda faz um lanche.
“Gosto de dormir em ambiente climatizado, então durmo nessas UPAS [Unidade de Pronto Atendimento de Saúde], mas às vezes vou deitar no cemitério ou nos bancos do Pronto Socorro. Depois que leio os jornais que eles me dão na Aleac, ainda consigo vender para os meninos que lavam carros e tiro um dinheiro. Quando vai ficando de tarde, já procuro um lugar para passar a noite. Essa é minha rotina”, conta.
Ele, que dorme em cima de papelões ou jornais, disse que além das condições precárias que vive, precisa enfrentar a violência. Silva afirmou que por várias vezes já foi assaltado e agredido por outros moradores de rua. “No Natal do ano passado me levaram tudo que eu tinha, fiquei só com a roupa do corpo”, relembra.
A solidariedade de algumas pessoas é o que mantém o morador de rua. Segundo ele, tem gente que chegar a dar uma quantia fixa por mês. “Vivo de doações. Consegui um controle e uma administração, que faz com que nunca falte dinheiro no meu bolso. Às vezes, tem cédulas que ficam meses no meu bolso guardado sem eu gastar”, diz orgulhoso.