20 de Janeiro de 2016
As escolas de samba de Ribeirão Preto (SP) passarão o terceiro carnaval consecutivo sem a realização do desfile oficial e, pela primeira vez, sem nenhum recurso da Prefeitura.
Entre 2014 e 2015, as entidades receberam repasses anuais de aproximadamente R$ 300 mil rateados para festas promovidas por grupos e blocos. No entanto, a verba prevista para este ano foi suspensa sob a justificativa de que a Prefeitura precisa dar prioridade às ações de combate à dengue, de acordo com anúncio feito em coletiva na última semana.
A União das Escolas de Samba da cidade afirma que a questão de saúde pública é importante, mas aponta que o corte é injustificável por considerar a verba irrisória diante do orçamento municipal.
"Durante os últimos três anos não havia epidemia de dengue, também não tinha carnaval, houve uma verba irrisória", diz.
Verba decrescente no carnaval
Antes de chegarem a zero, os recursos destinados ao carnaval em Ribeirão Preto passaram por duas mudanças nos últimos anos. Em 2013, quando houve a última edição oficial dos desfiles na cidade, as escolas receberam ao todo R$ 1.284.516,00 para gastos com infraestrutura e premiações.
No ano seguinte, o secretário municipal de Cultura, Alessandro Maraca, alegou que o mesmo montante não foi liberado devido a uma reformulação da Prefeitura e confirmou mudanças no financiamento. Somente foi aprovado um repasse seis vezes menor, de R$ 252.268, a ser dividida entre todas agremiações para que cada comunidade realizasse seu próprio baile.
Em crise financeira, a administração municipal adotou a mesma proposta em 2015, quando o repasse foi de R$ 289.941,00 - R$ 40 mil por escola, R$ 15 mil para a Corte do Momo e R$ 45 mil para o carnaval de blocos.
"Nos sentamos com as escolas e entramos em um consenso de fazer o carnaval nas comunidades, o que aconteceu nos últimos dois anos", afirma Maraca.
Os mesmos moldes seriam mantidos este ano, com um aporte de R$ 300 mil previsto em orçamento, mas a Prefeitura suspendeu o repasse ao alegar que precisa dar prioridade ao combate contra a dengue.
Depois de anunciar a medida na última sexta-feira (15), o secretário da Cultura confirmou reuniões esta semana com as entidades que representam o carnaval do município.
A forma como a falta de verba afetará a promoção de festas nas comunidades depende do planejamento de cada grupo, segundo ele.
"Estávamos trabalhando com essa possibilidade de ter o carnaval sim, aí chegou a notícia de que a cidade enfrenta uma série de problemas e que o recurso seria utilizado para outra finalidade."
'Injustificável'
O presidente da União das Escolas de Samba de Ribeirão Preto, Paulo César Pereira Oliveira, afirma que considera importante a luta contra a dengue, mas discorda do corte de verba do carnaval.
Sem sua opinião, os repasses reduzidos pagos às agremiações até o ano passado foram irrisórios e pouco deveriam impactar as contas públicas. "Para mim foi um uso populista para justificar o injustificável", diz.
Ele também argumenta que, depois do corte em 2013, a Prefeitura deveria ter economizado recursos.
"O que foi feito com o dinheiro do carnaval esses anos? Agora vêm com esse argumento pífio dizer que os R$ 300 mil farão a diferença", questiona Oliveira.
O presidente confirma que, assim como no ano passado, ao menos o bloco de que ele faz parte, o Afoxé Omó Orùnmilá, fará um desfile no sábado de carnaval. A previsão é de que a festa aconteça na Avenida Hervé Cordovil, no bairro Antônio Marincek.
Diante dos cortes, ele teme que a tradição do carnaval local se acabe. "Isso não está sendo respeitado por esse governo."