22 de Maio de 2015
Um remédio injetável que previne contra o HIV será testado no Brasil neste ano pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro (RJ). A fundação procura 20 voluntários para testar o medicamento que será aplicado a cada três meses, com acompanhamento médico por dois anos. A pesquisa será realizada simultaneamente em dois países da África: África do Sul e Maláui e nos Estados Unidos.
O remédio cabotegravir, conhecida pela sigla GSK1265744, é um antirretroviral que mostrou resultados positivos em testes conduzidos para tratamento da aids, e agora terá seu potencial testado para a prevenção da infecção pelo HIV. Pesquisas recentes com macacos mostraram eficácia significativa na prevenção contra o vírus.
A Fiocruz procura homens e mulheres, de 18 a 65 anos, não infectados pelo HIV e com baixo risco de contrair o vírus - entre elas, pessoas que fazem sexo com preservativo ou que se relacionam somente com um parceiro não infectado - para serem voluntários no estudo clínico intitulado HPTN077. Pessoas que contraíram hepatites B e C ou que fazem sexo sem preservativo com mais de um parceiro não poderão participar.
Os candidatos serão divididos em dois grupos, um que receberá as injeções e outro que receberá um placebo. Nenhum deles saberá o que está tomando.
"Primeiro precisamos saber se as pessoas saudáveis aceitam bem as injeções porque é uma substância que fica até um ano circulando no corpo. A injeção não causa risco de contrair o HIV. O risco surge só se a pessoa tiver uma exposição de risco durante o sexo", afirma Sandra Wagner Cardoso, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Clínica em HIV e aids do Instituto Nacional de Infectologia, da Fiocruz, e uma das responsáveis pelo estudo clínico.
Indivíduos cujo risco de contrair o HIV é considerado alto participarão dos testes somente na próxima fase do estudo, que vai verificar a eficácia do medicamento contra o vírus. Na atual fase, será analisada a forma como a droga age para combater o vírus de acordo com o sexo e a idade.
"Não podemos incluir pessoas que correm o risco de contrair HIV agora porque elas estarão expostas a uma substância por um tempo, mas depois a proteção delas cai. Outra questão é que elas podem estar tomando o placebo e achando que estão protegidas, mas não estarão", diz Cardoso.
A injeção não é o primeiro medicamento preventivo contra o HIV sendo testado. O Brasil já faz testes com o remédio Truvada, um antirretroviral tomado em comprimidos, que mostrou eficácia de quase 100% contra a infecção pelo vírus. No projeto "PrEP Brasil", também protagonizado pela Fiocruz, 500 homens que têm comportamento de risco de exposição ao vírus vão tomar o Truvada diariamente e serão analisados por um ano.
O GSK1265744 é considerado mais uma forma promissora de PrEP (profilaxia pré-exposição), mas, diferentemente do Truvada, sua eficácia ainda será comprovada em humanos, ressalta a pesquisadora da Fiocruz.
"O GSK1265744 é uma classe de antirretroviral diferente do Truvada porque atua em um momento diferente da multiplicação. Ele só poderá ser considerado mais uma forma de prevenção depois dos testes, mas com o diferencial de ter uma formulação que permite uma injeção a cada três meses, semelhante a uma injeção de anticoncepcional", afirma Cardoso.
Assim como a pesquisa com o Truvada, o teste do medicamento injetável no Brasil ajudará os cientistas da Fiocruz a descobrir se a droga será bem aceita no país.