15 de Janeiro de 2015
Vítima de uma sequência gestões desastrosas e cercada de polêmicas há mais de uma década, o município de Coari viveu nesta quarta-feira (14) a mais violenta manifestação popular da sua história. Em um ato contra a gestão do prefeito cassado Igson Monteiro (PMDB) e de seus aliados, manifestantes atacaram a sede da prefeitura, da Câmara e atearam fogo em imóveis e veículos.
Segundo relatos de associações e vereadores ouvidos pela reportagem, os atos começaram por volta das 8h com cerca de 200 manifestantes reunidos em frente a um dos imóveis do prefeito peemedebista. No local, móveis foram saqueados e uma picape estacionada foi depredada. Depois, o grupo se dividiu e passou a atacar pontos distintos do município.
Na sede da Câmara, vidros foram quebrados e equipamentos saqueados. Os manifestantes ameaçaram ainda atacar a sede da prefeitura, mas uma barreira policial protegia o prédio. As duas instituições foram esvaziadas após o início das ações. Com baixo efetivo de agentes de segurança, a policia local foi escalada para priorizar a proteção dos prédios públicos.
“Foi um movimento pessoal contra o prefeito: atacaram a Câmara, para atingir o irmão, e atacaram as casas do Igson. Isso é manobra da oposição. Só havia aliados da oposição e curiosos. Os servidores ficaram apavorados”, disse Elton Rodrigues, secretário de Administração do município.
Por volta das 14h, cerca de 35 agentes da Policia Militar do Amazonas (PM-AM) embarcaram no aereoporto Eduardinho rumo ao município para reforçar a segurança do local. À essa altura, pelo menos dois outros imóveis de propriedade de Igson Monteiro já haviam sido totalmente incendiados e um segundo veículo do peemedebista empurrado para o rio.
Os manifestantes atacaram também a casa do presidente da Câmara do município e irmão de Igson, Eliseu Monteiro (PMDB), conhecido como “Bat”, onde supostamente os vereadores se escondiam do tumulto. Outras residências de parlamentares governistas e oposicionistas foram atacadas. Não há, no entanto, relatos de pessoas feridas.
“Foi tudo muito rápido. Eles invadiram e queimaram várias casas do Igson, ameaçaram destruir a casa do presidente da Câmara, atearam fogo em carros. Um dos imóveis ficou totalmente destruído. Um grupo chegou a ir até o aeroporto para tentar capturar vereadores que estavam fugindo”, disse Raione Queiroz, do Conselho de Cidadão de Coari (Concico).
Aliado de Igson, o vereador Professor Natinho (PMN) disse que a sua família foi ameaçada pelo grupo. “Tentaram derrubar o portão da minha casa, com a família inteira dentro, arrombaram as janelas e tacaram pedras. Graças a Deus nada de mau aconteceu com a minha família’, afirmou, por telefone.
A manifestação reuniu moradores insatisfeitos com a gestão, mototaxistas que reivindicam aumentos na tarifa e servidores públicos. A folha de pagamento do município acumula rombos e servidores dizem que estão com pagamentos atrasados. “Foi uma centena de coisas que resultaram nisso. A população está cansada de não receber seus salários e ser engana”, disse outro vereador, que preferiu não se identificar.
Igson Monteiro foi cassado pelo Superior Tribunal Federal (STF) em dezembro passado junto ao ex-prefeito detido Adail Pinheiro. A chapa foi considerada inelegível por acumular condenações em órgãos de controle do Estado. O peemedebista, no entanto, ainda pode ingressar com recursos contra a decisão.