12 de Março de 2020
BRASÍLIA - A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) considera contraproducente e prejudicial para a sociedade fechar escolas neste momento no Brasil em razão da epidemia do novo coronavírus, que costuma provocar febre e sintomas respiratórios. Isso porque muitas crianças acabarão ficando sob os cuidados dos avós. E é justamente entre os idosos que a letalidade do vírus é maior. Na noite de quarta-feira, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, editou um decreto suspendendo, por cinco dias, aulas nas redes pública e privada, assim como eventos com público superior a 100 pessoas.
Para a SBI, o fechamento de escolas é uma medida a ser considerada apenas nas cidades onde há transmissão sustentada ou comunitária, quando não é mais possível rastrear a cadeia de transmissão, ou seja, dizer quem transmitiu o vírus para quem, e desde que haja pelo menos 1.000 casos. De acordo com a entidade, isso pode ocorrer "em poucos dias ou poucas semanas". Para a SBI, as cidades brasileiras com mais probabilidade de ter tal cenário são São Paulo e Rio de Janeiro, por serem as mais populosas e receberem muitos viajantes.
Brasília tem até o momento dois casos confirmados, sem transmissão comunitária. Antes de chegar ao ponto de transmissão sustentada, há outras duas fases: quando há apenas casos importados, isto é, contraídos no exterior; e quando há transmissão local, em que é possível identificar quem passou o vírus para quem.
"Neste momento da epidemia no Brasil não está recomendado fechar escolas ou faculdades ou escritórios. O fechamento de escolas pode levar a várias famílias a terem que deixar seus filhos com seus avós, pois seus pais trabalham. Nas crianças, a COVID-19 tem se apresentado de forma leve e a letalidade é próximo a zero; já no idoso, a letalidade aumenta muito. No idoso com mais de 80 anos e comorbidades, a letalidade é em torno de 15%. Portanto o fechamento de escolas em cidades em que os casos são importados ou a transmissão é local pode ser prejudicial para sociedade!", diz trecho do informe da SBI divulgado nesta quinta-feira.
Medidas mais drásticas devem ser consideradas apenas em locais em que a transmissão comunitária "continue a evoluir, geralmente passando de 1.000 casos". A SBI cita como exemplos: fechamento das escolas, faculdades e universidades, interrupção de eventos coletivos, como jogos de futebol e cultos religiosos, e fechamento de bares e boates.
Antes disso, em locais ainda na fase inicial de transmissão comunitária, a SBI recomenda medidas como estimular o trabalho em horários alternativos ou em caso, e restrição de contato social para pessoas com 60 anos ou mais, ou que tenham outras doenças. Diz também que "organizadores devem avaliar a possibilidade de cancelar ou adiar a realização de eventos com muitas pessoas".
No começo da transmissão comunitária, a SBI orienta ainda que profissionais de saúde com "síndrome gripal", ou seja, alguma doença que provoque sintomas como os da gripe, façam testes, mesmo que não tenham tido contato direto com casos confirmados.
Também em relação aos profissionais de saúde, a SBI aconselha, de um modo geral, que eles usem equipamentos de proteção individual (EPI), como máscara, avental, luvas e protetor facial ou óculos, no atendimento de pacientes suspeitos ou confirmados.